Especialistas já demonstraram pragas em placas e chips.
Ataque foi considerado impossível durante anos.
Pragas virtuais são normalmente armazenadas no disco rígido do computador e executadas pelo sistema operacional quando o PC é iniciado – exatamente como qualquer outro software. Durante muitos anos, usuários se perguntavam se era possível que um código malicioso atingisse ou danificasse equipamentos físicos, como as placas se vídeo ou rede, o processador ou a placa-mãe. A resposta dada a esses questionamentos foi muitas vezes um “não”, mas especialistas têm demonstrado vírus que atingem placas de vídeo, rede e placas-mãe, apontando para uma resposta diferente.
Se você tem alguma dúvida sobre segurança da informação (antivírus, invasões, cibercrime, roubo de dados, etc), vá até o fim da reportagem e utilize a seção de comentários. A coluna responde perguntas deixadas por leitores todas as quartas-feiras.

O CIH, em 1998, apagava o BIOS, chip que inicializa
o sistema. (Foto: Divulgação)
Não era um ataque físico direto. A BIOS é uma parte lógica da placa-mãe, mas consertar o chip poderia ser algo bem complicado, envolvendo, sim, um tratamento físico com a troca do chip da BIOS danificado para que ele pudesse ser reprogramado. O episódio deixou especialistas em dúvida. Houve quem dissesse que, como a BIOS é um componente lógico, não havia um dano ao hardware. Peter Szor e Eugene Kaspersky, dois respeitados especialistas, no entanto, escreveram em 2000 que o CIH foi “o primeiro vírus a danificar o hardware do sistema”.
Desde então, as placas-mãe não permitem mais que um ataque como o CIH ocorra, possuindo proteções contra programas que tentem alterar a memória da BIOS.
O debate sobre a possibilidade de vírus em hardware ou de danos permanentes a componentes físicos seguiu quieto até que, em 2006, John Heasman mostrou como infectar placas PCI de rede e vídeo. Heasman apostou que tais ataques, embora possíveis, não seriam comuns. Isso porque, segundo ele, usuários são descuidados e criminosos não precisam depender de ataques complexos para criar vírus com alto poder de camuflagem e destruição.

recursos que podem facilitar a criação de vírus.
Placas para servidores Dell já foram infectadas.
(Foto: Reprodução)
Ano passado foi a vez da barreira das placas-mães serem quebradas. Pesquisadores de segurança argentinos demonstraram um vírus capaz de se alojar na BIOS, a mesma que deveria estar protegida depois dos ataques do CIH. Nesse ano, a existência de ataques reais desse tipo foi confirmada pela primeira vez em placas-mães da Dell que infectavam o computador se o sistema fosse Windows.
Na semana passada, mais um pesquisador demonstrou como colocar vírus em componentes de hardware. Guillaume Delugré mostrou que a capacidade de processamento e memória das placas de rede Broadcom NetExtreme são suficientes para alojar um rootkit, um código malicioso invisível capaz de grampear o tráfego da rede e controlar o sistema infectado remotamente.
Delugré, porém, atenta para um detalhe: a maioria das placas de rede usada em computadores domésticos não tem capacidade de realizar as mesmas tarefas. É aí que entra as dificuldades dos vírus em hardware.
Por que não veremos um ataque massivo ao hardware
Segurança é uma área difícil de prever, então pode ser que, em breve, sim, surja algum vírus que ataque o hardware ou algo semelhante, como foi o vírus CIH em 1998. Mas existem alguns fatores que precisam ser considerados antes, e que apontam para uma realidade em que ataques por meio de componentes de hardware permaneçam raros.
Um vírus programado para atacar um hardware precisa ser específico para o hardware que ele quer atacar. Isso significa que é difícil atacar todos os computadores da rede, que usam configurações muito diferentes. O ataque de Delugré, por exemplo, depende do uso de uma placa de rede específica que é mais usada em ambientes corporativos.

controla a operação de um hardware. É ele que os
vírus podem atacar. (Foto: Divulgação)
O vírus de hardware, portanto, normalmente opera no firmware. Como o firmware normalmente é específico para cada componente, também o vírus precisa ser. Se não for, ele não conseguirá modificar o firmware ou, se modificar, pode acabar danificando o computador – e um computador danificado não pode ser usado para acessar o banco e permitir o roubo da senha.
Pragas como o Stuxnet, que possuem objetivos específicos em sistemas específicos, podem se aproveitar de mecanismos no hardware para se alojar nos computadores alvo. O Stuxnet, aliás, não infectava hardware, mas infectava arquivos de projeto de uma linguagem usada pelos controladores industriais; ou seja, foi ainda mais específico em sua ação.
Mas é muito difícil que um vírus comece a tentar infectar todo tipo de firmware. Se o fizer, provavelmente estará cheio de erros, a não ser que desenvolvedores realmente habilidosos dediquem muito tempo para a tarefa. Nos casos de laboratório demonstrados até hoje, especialistas trabalharam com o hardware que quiseram e não precisaram se preocupar com a viabilidade do código em grande escala.
Quanto a danos no hardware, essa é uma questão ainda mais improvável, já que os vírus de hoje não buscam mais danificar o sistema. Eles precisam do computador funcionando para realizar suas tarefas maliciosas. Já no caso de ataques específicos a certas organizações ou estruturas, a viabilidade dessa tarefa já não parece tão impossível. De fato, o próprio Stuxnet tinha como objetivo interferir na operação de controles industriais para causar falhas.
A coluna Segurança para o PC de hoje fica por aqui. Se você tem alguma dúvida sobre segurança ou sugestão de pauta, deixe-a nos comentários. Quarta-feira tem o pacotão de segurança, com respostas às perguntas deixadas por leitores. Até lá!
